O Ballet no Século 19 na França
O início deste século, na França, vê o fim da Revolução Francesa. E para o ballet, vê o início de uma nova era.
É nesse período que a técnica clássica, e os espetáculos, se consolidam como aquilo que hoje identificamos como o ballet.
Os espetáculos de dança passam a conter apenas a dança, não dependendo mais das músicas, poesias e fala para criar uma narrativa que o público conseguisse compreender. Essa evolução só foi possível graças ao trabalho de pensadores da dança no século 18, como Marie Sallé e Jean-Georges Noverre.
A técnica comedida da Dança Barroca perde espaço, com bailarinos e bailarinas explorando saltos, giros e o subir na ponta dos pés. Braços passaram a serem elevados acima da cabeça, pernas subiam até a altura do quadril (ou acima), a rotação dos pés para fora (en dehors) passa a 180º.
Tendências surgem e se consolidam As mulheres passam a brilhar nos palcos e os homens como grandes criadores.
A Ascensão da Mulher em Palco
Até o século 19, quem dominava os palcos eram os homens. Mas agora isso se inverte, e o ballet passa ser "feminino". Alguns fatores que contribuem para isso, são:
🔹O Romantismo, que coloca a bailarina como símbolo da perfeição feminina, sendo leve, etérea e perfeita. Esse movimento também acaba por consolidar o papel do homem como criador e não como intérprete;
🔹A busca masculina pela execução de saltos e giros cada vez mais complexos, mas mal executados, o que faz com que o público enjoe das tentativas falhas. Essa busca também acaba por afastar o homem dos ideias de leveza e perfeição do Romantismo;
🔹A mudança dos ideais de masculinidade, que acabam por considerar "afeminados" os trejeitos masculinos dos homens das cortes. Esses trejeitos são a base do balé clássico;
🔹Ser professor e coreógrafo se tornam profissões mais nobres e dignas de um homem na sociedade do que ser um intérprete (que acaba sendo considerado trabalho feminino).
A Técnica Clássica e os Espetáculos
É nesse período que surgem ballets de repertório que são muito famosos atualmente. Abaixo você encontra alguns deles, assim como algumas informações sobre mudanças na técnica clássica.
1832
La Sylphide
Obra de Filipo e Marie Taglioni. É conhecido como o primeiro balé a ser pensado para ser dançado nas pontas. Bailarinas e bailarinos dançavam nas pontas há um bom tempo até a estreia deste balé. Inclusive, foi assistindo uma bailarina chamada Amália Brugnoli que Marie Taglioni decide dançar na ponta dos pés. A verdade é que no início essa técnica não era restrita apenas às mulheres, homens também dançavam sob a ponta dos pés. Essa obra é responsável por consagrar a imagem da bailarina símbolo do romantismo: uma mulher etérea e leve. A estrutura do espetáculo também é bem diferente comparada com as obras do século passado. Não há fala ou música cantada. Apenas a dança e o gesto.
1836
Cachucha
Essa coreografia ficou muito famosa no século 19. Dançada pela lendária Fanny Elssler (irmã de Thérèse Elssler - se você não conhece, temos uma página específica sobre ela aqui no site), a coreografia mistura ballet com uma dança espanhola chamada "cachucha" (daí o título). Essa mistura do ballet com outros tipos de dança era muito comum, pois conseguia trazer para dentro do ballet a ideia de "nacionalismo" pregado pelo Romantismo.
Nessa remontagem a bailarina possui uma técnica muito parecida com a das bailarinas do século 19, que dificilmente elevavam as pernas acima da altura do quadril, giravam piruetas simples, muitas vezes dançavam na meia ponta e a coreografia possuía uma estrutura simples. Muitos dos movimentos dessa coreografia poderiam facilmente ser inseridos no que hoje chamamos de ballet neo-clássico.
Década de 1890
Bailarina Desconhecida
Este é um vídeo de uma bailarina londrina. Captado na década de 1890. Comparando com uma bailarina moderna, seus joelhos e pés esticam menos, ela realiza poucos passos sob a ponta dos pés, seus braços são menos definidos, assim como suas posições dos pés.
O Ballet no Brasil do Século 19
O balé chega ao Brasil durante o século 19. Nesse período, em 1808 a Família Real Portuguesa se refugia no país, fugindo das invasões Napoleônicas a Portugal. Buscando transformar o Rio de Janeiro em uma capital de excelência (e civilizada) incentivam a vinda de artistas europeus. Para a dança chega, em 1811, Luís Lacombe.
Lacombe não possuía uma formação de excelência em dança, e talvez, por isso, suas aulas focavam no ensino de boas maneiras para jovens damas da alta sociedade. Durante o século 19 o balé, no Brasil, era visto como uma forma de treinamento de boas maneiras e não como uma possível profissão para jovens meninas. Essa visão ainda é propagada na atualidade, e acaba por excluir a presença masculina no balé brasileiro.
Também é nesse século que se instala no país uma das maiores estrelas dos palcos italianos: Maria Baderna. Mas sobre ela temos uma página em específico, clique no botão abaixo para visitar😉
O ballet ensinado aqui no Brasil era muito parecido com o ballet francês, com algumas influências do ballet italiano. Apenas no século 20 que o balé russo chegou ao país, e que essa forma de dança passou a ser levada a sério e enxergada como uma possível profissão.
Com carinho, Bruna Boita Meoti
Pesquisadora e idealizadora do Projeto Oriri
06/07/2023
Projeto Cultural selecionado pelo Prêmio Elisabete Anderle de Apoio à Cultura – Edição 2022, executado com recursos do Governo do Estado de Santa Catarina, por meio da Fundação Catarinense de Cultura. Processo FCC 2920 / 2022.