Era uma vez uma menina que nasceu em 1710, numa família de linhagem nobre em Bruxelas, mas que já havia perdido parte de sua fortuna. Meu nome é Marie Camargo.

Aos 11 anos, fui enviada para Paris, onde tive a chance de estudar na renomada Ópera de Paris sob a orientação de Françoise Prévost, uma das maiores bailarinas e professoras de nosso tempo. Desde o início, a dança foi minha paixão, e dediquei cada dia ao aprimoramento técnico e artístico.

Minha estreia nos palcos da Ópera de Paris foi em 1726, em Os Personagens da Dança (Les Caractères de la Danse), coreografada pela própria Prévost. Foi um momento inesquecível, e o público notou imediatamente minha habilidade para os saltos, o que me trouxe o reconhecimento e também despertou a rivalidade com minha professora.

Nos bastidores, nossa relação começou a se complicar. Prévost, talvez intimidada pela rapidez de meu sucesso, passou a me colocar em papéis secundários, longe dos solos. Mas um incidente no palco mudou tudo: quando um bailarino não apareceu, improvisei um solo e fui aclamada pela plateia. A partir desse momento, meu treinamento seguiu com outros mestres, Michel Blondi e Louis Pécour.

Naquela época, homens e mulheres dançavam de forma muito distinta. Enquanto eles exibiam piruetas duplas e saltos complexos, as mulheres seguiam uma técnica mais contida. Eu, porém, quis desafiar essa norma. Passei a executar as mesmas piruetas e saltos que os homens, abrindo caminho para o virtuosismo na dança feminina. E, para mostrar essa habilidade, decidi encurtar levemente a saia, permitindo que o público visse meus pés em movimento. Esse gesto, embora chocante para a época, trouxe uma mudança duradoura.

E assim foi. Dancei não apenas para encantar, mas para provar que a mulher poderia ser igualmente poderosa e técnica, como dançavam os homens.


Foi um prazer te conhecer!

Este projeto foi contemplado no Edital de Fomento e Circulação das Linguagens Artísticas de Chapecó N⁰ 007/2024 - Edital das Linguagens: Edição 2024